quinta-feira, 15 de novembro de 2018

Quem quer ser feliz é doente das ideias.

Na natureza, tudo que existe é inconstância, nada, absolutamente nada é constante. Por isso, a felicidade não existe. Felicidade é uma coisa irreal, imaginativa, pois ninguém fica em um estado emocional sem variar. Variabilidade é a lei da natureza. A perfeição de querer ser feliz, é coisa doentia. Aprecie a vida e os momentos, e daquilo que tens faça a sua "felicidade", do modo que pode, evitando aborrecimentos inúteis; e aborrecendo-se quando útil, pois isso faz crescer e é o que dá ânimo à vida.


Não cultue a tristeza, nem a alegria

Não cultue a tristeza ou alegria, cultue a variabilidade humana de viver a cada dia. Não se é, como se era, não será, como se é. Não se sente a calmaria, a não ser por um momento; no coração o sentimento, nunca constante estará. Se de sangue e alma é feito; a inconstância lá está. A chuva que alaga, faz brotar. O sol que seca também faz colher. A instabilidade é no homem um fermento que faz crescer. A estabilidade é imaginativa, perfeccionista, irreal; meu amigo, por favor; não me leve a mau, nada neste mundo é estável, nós crescemos com o caos.
                                                                                                              Minha autoria.


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E enfim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
                                                      Luís Vaz de Camões



CRIMES CONTRA CRIANÇAS
Não somos apenas avessos aos agentes estressores, e não os compreendemos, como, ainda, cometemos crimes contra a vida, os seres vivos, a ciência e a sabedoria, em nome da eliminação da volatilidade e da variação. Sinto raiva e frustração quando penso que um em cada dez norte americanos acima da idade do ensino médio está fazendo uso de algum tipo de antidepressivo, como o Prozac. Na verdade, agora, quando passamos por mudanças de humor, temos de justificar por que não estamos usando alguma medicação. Pode haver algumas boas razões para fazer uso de medicação, em casos patológicos graves, mas meu humor, minha tristeza, minhas crises de ansiedade, são uma segunda fonte de inteligência — talvez, até, a primeira.
Fico relaxado e perco energia física quando chove, torno-me mais meditativo e tendo a escrever mais e mais lentamente nessas ocasiões, com os pingos de chuva batendo na janela, o que Verlaine chamava de “soluços” outonais (sanglots). Em certos dias, entro em estados melancólicos poéticos, o que os lusófonos chamam de saudade, ou os turcos, de hüzün (da palavra árabe para tristeza). Em outros dias, sou mais agressivo, tenho mais energia — e escreverei menos, andarei mais, farei outras coisas, discutirei com pesquisadores, responderei e-mails, desenharei gráficos em quadros-negros. Devo ser transformado em um vegetal ou em um imbecil feliz?
Se o Prozac estivesse disponível no século passado, o “baço” de Baudelaire, os humores de Edgar Allan Poe, a poesia de Sy lvia Plath, os lamentos de tantos outros poetas, tudo que tivesse alma teria sido silenciado... Se as grandes empresas farmacêuticas fossem capazes de eliminar as estações do ano, provavelmente, o fariam — visando ao lucro, é claro. Há outro perigo: além de prejudicar as crianças, estamos prejudicando a sociedade e o nosso futuro. As medidas que procuram reduzir a variabilidade e as oscilações na vida das crianças também estão reduzindo a variabilidade e as diferenças dentro de nossa chamada Grande Sociedade Culturalmente Globalizada.
Antifrágil; Taleb

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